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26/05/2013

Olhares iluminados: os efeitos da luz azul sobre a cognição

Equipado com um refinado sistema de ajuste focal, sensibilidade regulável e transmissão instantânea, nossos olhos deixam para trás qualquer câmera fotográfica de última geração. Nosso sistema visual é de fato completo, e a influência da visão em nossa vida é tão grande, que diversos artistas criaram obras incríveis para serem apreciadas por esse sentido. Quando vemos algo realmente bonito e interessante, parece que não conseguimos desviar nosso olhar. Quem nunca se encantou com as obras de um arquiteto brilhante, como Oscar Niemeyer, ou nunca se emocionou com fotos tocantes, como as do fotógrafo Sebastião Salgado?


A rapidez e o amplo detalhamento fornecido pela visão fazem com que ela seja apontada por diversos autores como a modalidade sensorial dominante nos seres humanos. Um estudo realizado por Schifferstein (2005) comparou a contribuição potencial de cada um dos sentidos na experiência com produtos e mostrou que, nas situações reais do dia-a-dia, a visão é de fato dominante. No entanto, é importante ressaltar que outro estudo, realizado por esse mesmo autor (2006), mostrou que nem sempre as pessoas a consideram como o sentido principal na interação com produtos. Dependendo do objeto analisado, outros sentidos podem se tornar predominantes nessa dinâmica. De fato, em 25 dos 45 produtos avaliados (56%), a visão não foi considerada o sentido mais importante, isso ocorreu com itens como desodorantes, sabonetes e biscoitos, nos quais outras modalidades sensoriais foram julgadas mais importantes pelos participantes.


A luz é essencial para a captação de imagens pelos olhos, porém ela também está envolvida em muitos comportamentos e funções fisiológicas, tais como a regulação do ciclo do sono, secreção hormonal, termorregulação e cognição. E será que os efeitos da luminosidade sobre o corpo dependem da cor emitida? Dois estudos avaliaram o impacto gerado pela exposição a diferentes comprimentos de onda sobre a cognição e revelaram que a luz azul aumenta nosso desempenho cognitivo. O primeiro deles usou um teste de atenção simples (baseado no tempo de reação) e mostrou que a luz azul promovia um melhor desempenho na tarefa em comparação com a verde. O segundo trabalho usou uma tarefa que exigia uma demanda cognitiva maior, e novamente a exposição à luz azul favoreceu o raciocínio em comparação com a exposição à luz verde ou violeta (revisado em Vandewalle et al., 2009).


Da mesma forma como a luz azul auxilia na atividade racional, será que também poderia influenciar outras atividades corporais? E as demais cores, poderiam exercer algum impacto ou modulação sobre funções fisiológicas específicas? É muito intrigante saber que a variação do comprimento de onda luminoso a que estamos expostos seja capaz de gerar mudanças tão significativas, mas será que isso ocorre somente com a luz, ou será que a cor dos objetos também pode influenciar nosso comportamento e desempenho? No próximo post veremos alguns trabalhos muito interessantes sobre esse tema.


 


Referências


Schifferstein HNJ, Cleiren MPHD. Capturing product experiences: a split-modality approach. Acta Psychologica. 2005;293-318;


Schifferstein HNJ. The perceived importance of sensory modalities in product usage: A study of self-reports. Acta Psychologica. 2006;121:41-64;


Vandewalle G, Maquet P, Dijk DJ. Light as a modulator of cognitive brain function. Trends in Cognitive Sciences. 2009;13(10):429-38.